2009-12-11

Rotinas

Na porta umas verrugas imensas, a rugosidade dos anos, e eu sem tocar, sem saber se tocamos, eu e as minhas mãos, com medo de ficarmos velhos, velhos como aquela porta.
Distraio-me da porta e fixo-me nas paredes, também elas velhas, sujas, húmidas, verdes, cinzentas, negras, de bolores intemporais. O sangue escorre-me frio, para os pés, e eu penso em água quente, água muito quente, penso no leite da minha mãe, no café da manhã, na manta que tenho na sala, na cama quando tu estás e eu estou.
Agora sim a janela, a janela com vidros, vidros partidos e sujos que deixam passar o frio e tapam a visão. A janela que podia ter sido o que tudo o resto não foi, e eu ali, parado, sem saber, toco, não toco.
Volto-me e encontro o caminho que percorri. Tão complicado voltar atrás quando só a cabeça volta. Arrisco uma simulação, uma finta, uma vénia traiçoeira. Arrisco convencido que estou a arriscar, arrisco sem saber que já tinha aberto a porta.
E no entanto a piscina está lá, toda aquela água que eu devoro três vezes por semana, todo aquele esforço para me cansar, uma, duas, três…Vinte, vinte e uma, vinte e duas…Oitenta…Cem…Para! Eu paro! Não estou convencido mas paro.
O vapor, os azulejos quentes que me escaldam a pele, seis metros quadrados que me lembram a asma, a janela aberta, eu a querer respirar, a querer voar, a querer viver.
Esqueci-me da porta, hoje não vou pensar mais nela. Não vou pensar mais na porta.
Não vou pensar mais na porta nem nas paredes…
Vou esquecer a janela e o caminho que me trouxe mas que não me pode levar para trás.
Só assim faz sentido ter-me cansado.

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