2020-06-19

Despedimento


 

Despedimento.

Despem-me da carne a pele,

a alma e o sustento.

O pouco que sobrou de mim

negociado numa mesa e o fim

anunciado no momento.

Quer, não quer, é o que há.

Hoje posso amanhã quem julgará

Não pense que eu sou o que sou,

Considere-me a voz do desengano,

nova oportunidade ou alento.

Sou porta voz de um jumento

em fim de ciclo ou novo ano.

 

 

 

Noites houve,

que a semana não contou,

em que a minha vida desfilou

pelos meus olhos cerrados.

O meu número num cartão,

e o meu nome num borrão,

são prova do que passei,

fragmentos do que fui e do que sou,

restos do que sonhei

pedaços de mim espalhados.

 

Hoje entrei,

tingindo de rosa o pudor.

Trespassei o corredor

Lembrando como cheguei.

Sinto a mão que me empurra

mas não lhe tenho rancor.

Trago um alívio de dor,

por tudo aquilo que eu dei.