2022-04-23

Sentado na minha cadeira e sem querer ter razão

Sentado na cadeira questiono-me. A chuva lá fora é banda sonora. Cá dentro sou o corpo que está sentado. Tenho uma manta sobre os joelhos e um ecrã defronte dos meus olhos, tenho o mundo à distância dos meus braços e as extremidades, a que se convencionou chamar dedos, vibram febrilmente procurando novidades. A guerra, conflito armado entre dois povos, é invasão e libertação, operação militar e ocupação injustificável. O conflito é servido com a respetiva guarnição de contradições. Antigos ódios renascem das cinzas e reerguem-se os muros que se consideravam extintos. Os anos noventa e a nova ordem mundial, a globalização e a deslocalização de empresas, o dinheiro voando sem ideologia pelos céus sem fronteiras, as relações comerciais que de tão vantajosas impediriam futuros conflitos armados, tudo destruído num só dia, um sonho europeu que nunca se concretizou. Sentado na minha cadeira questiono-me sobre esta europa, sentado na minha cadeira questiono-me sobre o meu mundo. O comunismo transformado em capitalismo de estado e o capitalismo tradicional recebendo de braços abertos esta nova oportunidade.

No meio de tudo isto o trabalho no mundo cada vez menos remunerado. No meio de tudo isto mais um país invadido, mais mortes, mais refugiados, mais…

No meio de tudo isto as desigualdades que se acentuam, as sociais, as raciais, as de género…

Sentado na minha cadeira teimo em ter esperança.

Hoje é tempo para ver, sentir e decidir.

A razão virá depois, ou não.