2007-02-28

Existe um lugar

Existe um lugar
Onde a terra não é firme
E o mar não sabe a mar

O Homem Novo diz o que sabe
O Velho ouve sem saber
Os pés longe da terra
Os olhos cegos sem ver

Neste lugar moderno
O dinheiro fez o Homem Novo
O Velho não sente o mar
Da janela do quarto, no lar.

Existe um lugar
Onde a terra não é firme
E o mar não sabe a mar

O Novo conduz o Velho
No papel está o contracto
A visita pelo Natal
Tudo o que é normal

Os olhos que vão cegar
A ti que acabas de chegar te aclamam
Qual será a doença
O motivo da presença

Existe um lugar
Onde a terra não é firme
E o mar não sabe a mar

Eu que sou velho, adivinho
A conversa que tiveram
Entre o Novo que é meu filho
E o lugar onde me meteram

Chega-te ao grupo
Vem devagar que tens tempo
Neste lugar sem firmeza
Onde tu não és certeza

Existe um lugar
Onde a terra não é firme
E o mar não sabe a mar

Não acredito em Deuses
Nem em paraísos distantes
Neste lugar onde estou
O Mundo já acabou

Sinto enorme o sossego
Não me consigo levantar
Deito os olhos ao céu
Pois o mar não sabe a mar.

2007-02-22

A Lagoa V

Começou a chover. O sol de Inverno desapareceu e deu lugar ao cinzento que, uniformemente, preencheu o céu. A chuva não é grada, pelo menos por enquanto. Mais tarde se verá. Nos cafés começa-se a falar do assunto, procura-se nos jornais diários a informação que falta e que continuará a faltar. Sabe-se de jornalistas no Hotel Novo, imprensa escrita que a televisão e a rádio andam noutros Carnavais. Nem só nos cafés se fala, mas serão sempre estes locais os privilegiados para debater acontecimentos.
Numa sala interior, Pedro e Alice ainda se encontram reunidos com o seu Superior e com o inspector da Judiciária. Manifestaram interesse em ajudar nas investigações, foi um interesse genuíno, de quem tinha visto três cadáveres em menos de vinte e quatro horas e queria respostas. Sim, iriam ter esse facto em consideração, mas para já era tudo. Saíram desiludidos. Compraram qualquer coisa para comer e por sua conta e risco decidiram voltar ao pinhal.
Para os lados da lagoa o vaivém dos crentes continua. Dependentes do que aprenderam sobre o líquido milagroso mantêm as romarias. Pode ser impressão, e dai talvez não, os semblantes estão, como se costuma dizer, carregados, carregados de medo, o medo que desperta os sentidos e nos põe alerta. Alice pergunta, “Conhecias o homem?”, “Não pessoalmente, mas conhecia-o de vista.”, “Quem era”, a pergunta seca, de quem não devia precisar colocá-la. Foi necessário, dai a secura, “Não ouviste o sargento?!..”, a resposta irónica, também ela seca, “Ouvi! Fiquei a saber o nome, a idade e a profissão.”, “Não te chega?”, “Não!”, o desencontro, situação invulgar entre os dois, diz quem sabe que estes dias também são precisos, para aferir das relações, sejam elas de amizade ou não, “Está bem!...”, o Pedro rende-se, ou finge fazê-lo.
Disse-lhe que o homem tinha perdido a mulher aquando das primeiras mortes, foi uma das vítimas que apareceu queimada. Quando isto aconteceu o filho mais velho de Pedro estava prestes a fazer dois anos. Disse-lhe que o homem tinha dois filhos, um rapaz, uma rapariga, o primeiro foi para França e nunca mais voltou, a filha ficou-se pela rotunda, avenida de prazer, rastos negros nos braços, nas mãos, nos pés, no pescoço…Também ela, de alguma forma, não voltou. Disse-lhe que o homem começou a beber até parar por momentos para tratar de uma crise hepática depressa voltando à rotina. Falou-lhe do trabalho que o homem abandonou e nos desenrasques de sobrevivência até que há dois anos tinha atinado. Uma mulher, viúva recente, tirara-o do vício, arranjara-lhe um emprego decente na empresa onde o marido havia sido director, trabalho menor é certo, mas digno e razoavelmente bem remunerado. As más línguas ligavam-na a cultos satânicos perpetuados no pinhal e acusavam-na da morte do marido, conhecido peregrino dos banhos da lagoa, associaram o cancro fatal a rezas e maldições. Isto era o que o povo dizia e o que ele sabia. Agora, com a morte do Rafael, vão dizer muito mais.
Alice ouviu com atenção, sem interrupções, e mesmo depois do Pedro se ter calado, manteve-se em silêncio durante mais algum tempo, “Quer isto dizer que anda tudo à volta do mesmo?”, a palavras vieram-lhe reconciliadoras, “Depende do ponto de vista.”, a secura foi-se, manteve-se a ironia, “Não brinques comigo. Tudo passa por essa gente que se reúne para evocar sei lá o quê…Uns dentro de água, outros com fogo…outros com…Paranóias!”, voltou-lhe a irritação, “Existe mais gente interessada no conflito desde que ele leve à destruição das árvores junto ao mar.”, ele sabia que ela iria ficar interessada e menos agressiva, por esse motivo prolongou a frase num tom suspensivo, “Que gente?”, o efeito foi o pretendido e ele continuou, “Gente que constrói, gente que manda, gente de dinheiro, gente que quer transformar a lagoa numa estância turística…”, deixou a frase no ar, “Existem assim tantos interesses?”, contente por a ter de volta prosseguiu, “Também se fala numa fábrica, mas dessa têm tratado os ecologistas…”, pausa, “Mais alguém?...”, “os suspeitos do costume, drogados, contrabandistas e traficantes que se servem da praia como local de desembarque…Mas esses estão mais interessados em não levantar ondas e para mim não têm nada a ver com o assunto.”, “Falas como se os conhecesses…”, desta vez foi dela a ironia, “E conheço, após alguns anos e num meio pequeno fica-se a conhecer muita gente”, Pedro respondeu mostrando aborrecimento, “E isso não te chateia?”, ela espetou a faca mais fundo, “Aprendi a ser uma pessoa normal quando dispo a farda. À civil os meus ouvidos são civis e a minha boca discreta.”, ele estava a levar a coisa a peito, “Não me estás a dizer que os deixas andar?...”, “Estou a dizer-te que também tenho vida para além da farda. E se queres um conselho digo-te que é melhor separares as águas ou serás uma eterna estrangeira.”, quem assim falou, falou danado, “Achas que é fácil fazer o que dizes?...”, e que dizia ele?...”Não!...Mas é a melhor maneira.”, ela não lhe perguntou que outras maneiras havia, mas não ficou convencida…E o Pedro sentiu-se ofendido, desrespeitado, ou algo entre as duas…Nem sempre é fácil explicar aos mais novos que os anos de serviço funcionam como analgésico…Nem sempre é fácil explicar aos mais velhos que pode haver quem faça a diferença, em qualquer dos casos é uma questão de tempo.
Separaram-se de mau humor. Ele vai dormir a pensar no caso, ela vai pensar na conversa que tiveram, principalmente na última parte da conversa.
Durante a noite dois vultos circularam no pinhal e apesar da chuva deixaram acesos três candeeiros a petróleo. Do lado da lagoa os peregrinos começaram a usar facas dissimuladas na roupa, principalmente os mais novos.
O que vos vou contar sei porque sou o narrador e é dever do narrador saber tudo…Ou quase…Neste caso sei que esses dois vultos arrastaram um corpo para a beira da água…Junto à lagoa.

(Cont.)

2007-02-18

Esperas (Da nossa vida que é um somatório de esperas)

Uma de tantas…

Saio de casa tarde. O relógio avisa-me do atraso, ou do mundo lá fora a girar…E eu parado, ou quase…Tentando chegar...
Primeiro a estação, o passe comprado no início do mês, o comboio que parte…Não o vejo mas sei que parte, ruído de partida…
Quando chego ao cais este encontra-se vazio. Vislumbro a silhueta que se afasta…Metal contra metal e a electricidade que o faz mover…Espero…Vou ficar à espera e estou atrasado.
Está frio mas eu não o sinto. Sei que está frio porque o ar que me sai da boca vem condensado, gasto, usado em mim e por mim…E espero…Lá longe adivinho o som metálico dos carris percorridos…Vejo-os inertes, inúteis, esquerda, direita, vazios…
O relógio de pulso diz-me, “Estás atrasado”, respondo-lhe, “Sim, eu sei.”.
Chegam pessoas ao cais. Escolhem posições e ficam à espera…Como eu!...Eu não!
Eu vou-me embora!


Outra, noutro lugar

O parque está cheio. Tenho dificuldade em encontrar um lugar, misto de sorte, paciência, sorte, olhos abertos…Eu não fechei os olhos e aproveito rápido uma saída repentina, sou mais rápido a sacar. Por detrás do vidro percebo as palavras maldosas, “…Filho da puta…”, “…Paneleiro da merda…”, “Cabrão do caralho…”, minutos atrás eu era apenas o Paulo…
Tenho as rodas paradas, o chassi em descanso, a carroçaria promete-me protecção.
Tenho uma moeda na mão, da moeda um carrinho…E o caminho das prateleiras…Tudo o que preciso está etiquetado…O carrinho enche-se e fica pronto a ser levado…Eu levo-o…Ele deixa-se levar…
Estou parado à espera. À minha frente esperam vários carrinhos…Atrás outros carrinhos…Espero mais um pouco…
…Carrinhos com dono!
O meu?...Abandonado.
Eu estou lá fora…Adeus!


Uma lixada

Duas mulheres choram na sala. Na sala mais ninguém chora…Tudo espera. Não se vê o sorriso descontraído, o olhar perdido dos sonhos de encantar. As duas mulheres choram junto à enfermeira de serviço, esperam notícias…A enfermeira espera a hora de saída, a rendição do turno, o encontro com o filho pequeno que está com a avó…Eu espero que o choro acabe…Do lado de fora estou a ouvir…Por dentro o tempo parou, no destilado das horas o resíduo que sou eu…Desaparece…
O choro das mulheres parou e foi substituído por outro…De criança…Sofrido de angústia, de pânico…Eu espero…Tudo mudou menos eu…Hoje eu vou esperar…Tenho um nome para esta espera…


A última... As outras ficam por contar.

São dez horas da manhã e o homem aparece com um papel, uma lista, nomes de testemunhas, de arguidos, queixosos…Advogados?...Já não me lembro.
O empregado judicial vai marcando presenças. Eu espero pelo meu nome, pela minha vez de dizer presente, sim, sou eu…Mas antes não fosse…
Fico-me pelo, “Sim, sou eu.”, ou “Estou aqui”…Agora que penso melhor, não me lembro de ter respondido…
Os processos são muitos, muita gente, muitos minutos, infinitos minutos. Equívocos e desde logo algumas discussões, a tensão de quem se confronta, circo romano com regras definidas em leis que poucos conhecem…Desengane-se o senso comum…Também ele um engano…
Espera-se em pé, nos corredores, ouvem-se as conversas de grupos próximos, viram-se costas aos rivais. O ar fica cheio, e eu cheio do ar e da espera.
Junto de mim dois guardas prisionais esperam comigo….

2007-02-13

A Lagoa IV

Era o Pedro que conduzia, foi ele que engrenou as mudanças que rentabilizaram a aceleração. O Nissan Patrol não era dado a grandes velocidades embora fosse dotado de um motor potente. O barulho da máquina inundou o habitáculo. Os balanços tornaram-se instáveis e perigosos, as curvas no limite do equilíbrio. Porquê tanta pressa? Os cadáveres não têm urgência. A necessidade de respostas, essa sim, provoca-nos tremores, dependências psicológicas. É essa a urgência. As luzes vão acesas, avisando prioridade a quem quer que se atravesse, curva à esquerda, curva à direita e contra-curva, recta até à via rápida, saída para as Areias Brancas, desaceleração, redução, curva a noventa graus, entrada em estrada de terra e areia. Esperavam ver alguém a indicar o local, gritando, talvez em pânico. Não se via ninguém. Travou bruscamente e só agora olhou para a parceira, “Aonde?!”, “Cerca de quinhentos metros, na berma…”. Arrancou devagar. Sim, o vulto percebia-se bem, ali estava ele mais à frente, impossível de não se encontrar, borrão negro no amarelo da areia. Estão perante um corpo do sexo masculino enrolado numa posição fetal que lembra a gestação, o que confere um ar de fragilidade ao cadáver. Percebe-se que internamente se encontra desconjuntado, desajustado nos seus alinhamentos naturais.
Quem o encontrou? Quem deu o alerta? O Pedro não foi. É casado, tem dois filhos, vive com a mulher, é alto de um metro e oitenta e oito, cabelo muito curto e preto, não tem barriga, mesmo demasiado magro. É escuro de pele. Se não fosse tão alto e tivesse bigode ou barba poderia passar por magrebino, e pode não ser totalmente mentira visto as suas origens sulistas, família antiga da região de Silves.
Alice também não. Alice é divorciada, não tem filhos, não tem namorado, vive sozinha e é do norte, de Chaves. Alice é alta de um metro e setenta e cinco. Tem a pele muito branca, cabelo loiro e cara de menina. Talvez seja este o motivo da sua atitude agressiva, de uma masculinidade encenada, com que encara as adversidades, sejam elas profissionais ou pessoais. O respeito é algo de muito importante para quem se quer dar a ele e ela quer. É fisicamente bem constituída, não é magra, tem um sorriso aberto e olhos azuis cor do mar em dia de Verão. É bonita, cara equilibrada nas distâncias que definem a beleza, raiz normanda onde sobressai uma boca bem desenhada, de lábios grossos, que faz do seu sorriso a sua imagem de marca entre os mais chegados, imagem de boa disposição e alegria que às vezes lhe falta.
Quem o encontrou não foram Pedro e Alice, estes vieram de chamada. Talvez a voz feminina que telefonou para o posto e que desligou rapidamente. Sim, essa sim comunicou ao piquete a existência de um cadáver, sem pormenores à excepção do local.
O alerta foi dado de pouca fé, adivinhava-se a brincadeira. Neste momento os dois elementos da GNR presentes no local sabem que isso não é verdade. Sabem também que o povo vai começar a falar. Falharam as expectativas do Pedro, deu-se razão à Alice.
A tudo nos acostumamos, também à morte. Alice foi profissional na comunicação ao posto, como no outro caso actuou em conformidade. Porém mais calma, atenta na observação dos detalhes, do cadáver, do local e dos acessos. Os dois procuram registrar tudo o que possa ser útil para a investigação, para a judiciária, para eles. Alice tirou do bolso um pequeno bloco e uma caneta que se percebe ser objecto pessoal, caneta fina, de cor matizada em verdes, só para referir o carinho com que a escrita lhe sai, a bonita caligrafia, esguia, desenhada, de quem é cuidadoso e perfeccionista. Pedro olha em volta, para o pinhal que se adensa do lado esquerdo, para a estrada de areia que o separa do lado direito, também ele pinhal, para a frente, em direcção ao mar que se pressente numa faixa cinzenta escura por cima duma lomba da picada, para a origem desta, no sentido oposto, no acesso à via rápida por onde vieram. Esta total abrangência visual, este cheirar o ar, fê-lo cerrar os olhos, como se nesse gesto dissecasse os dados recolhidos, os organizasse, alinhasse, desse sentido, apontasse uma direcção.
No entanto esta tarefa vai pertencer a uma brigada especial recentemente formada no corpo da GNR e que a titulo experimental vai trabalhar em conjunto com a judiciária.
Quanto a eles iram continuar as rondas que certamente vão ser reforçadas. Para já, acabam a manhã a falar com o sargento e com um inspector da Judite que chegou na noite anterior.


(Cont.)

2007-02-06

A Lagoa III

O Pedro jantou cedo. Pouco falou. Os miúdos discutiram aproveitando o espaço livre, demasiado adolescentes para perceber. A mãe repôs a ordem substituindo a apatia paternal. No silêncio, o diálogo dos talheres, o roçar nos pratos, palavras impedidas de sair pelas garfadas de esparguete, pela carne à bolonhesa, pelo queijo ralado.
O Pedro deixou os filhos verem um filme no aparelho da sala. Despediu-se deles e foi para o quarto, a mulher seguiu-o, já sabia do crime. Gabriela deitou-se com ele. Pedro adormeceu de barriga para cima, de olhos no tecto, ela com a cabeça no peito dele, a boca roçando um mamilo, uma mão no outro, fez amor sem ele saber.
Alice dormiu sozinha. O café que bebeu depois do jantar deu-lhe insónias e nem o romance que leu lhe evitou o desconforto da solidão. A história da lagoa não lhe largava a ideia. Derrotada pelo cansaço mergulhou num sono profundo e sonhou. Via-se mãe, mãe das meninas mortas, chorando, gritando revolta. Via-se vingadora, de faca na mão, matando e estropiando, estranhos grupos de culto incerto, obscuros e ruins como convém a quem odeia. Via-se errando na praia de noite, o pinhal ardendo, o lago vermelho…Ela entregando-se ao mar, mar vivo de vaga grande e vigorosa, a espuma espelho do fogo.
O tempo é carrasco e não pára. Parece especialmente cruel quando se dormiu mal, o descanso foi pouco, o sol demasiado cedo ou já quase a aparecer quando nos deitamos.
Mas é assim que funciona, não há nada a fazer. Para a Alice e para o Pedro a noite foi pequena. Alice estava em pior estado quando apareceu no posto, os olhos vermelhos, branca, demasiado branca, os músculos da cara desistindo da expressão. Pedro já lá estava e tirou-lhe dois cafés de máquina, “Aguentas-te?”, “Dormi mal e sonhei com as gaiatas, aquela coisa que tu me contaste não me largou a noite toda.”, “Desculpa, eu sabia que não te devia ter contado.”, ela esboçou um esforçado sorriso, no entanto bonito, “Não sejas parvo, julgas que só tu vais fazer essa associação? Mais cedo ou mais tarde vai andar na boca do povo.”, “Talvez não…Se não houverem mais mortes.”, “Não acredito.”, “Que não haja mais mortes?”, “Que o povo não fale…”. Meteram-se à estrada. Até ao final da semana era aquele o serviço. Passaram pela aldeia, patrulharam duas pequenas povoações e a herdade dos “malandros”, alcunha pela reputação dos proprietários. Demoravam-se sempre um pouco lá, atraídos pela calma do lugar, o jeep em primeira, quase sem pé no acelerador. Os sobreiros espaçados, pontos verdes no espaço aberto, molhados da orvalhada, de cara lavada, o ar limpo e gélido, o céu azul, azul referência, consequência óptica de belo efeito, tudo isto para dizer que hoje este trajecto fez-lhes bem. Preferiram fazê-lo calados, recuperando forças para voltar à lagoa. Mas para já a várzea lugar húmido e que ainda se encontra alagado de chuvas recentes. Depois as bombas, a rotunda e finalmente a lagoa. Está deslumbrante como sempre, aquele calma que contrasta com o rugir do mar por detrás das dunas, aquele ambiente que convida o espírito a acreditar, efeito especial preparado pela natureza. Por momentos quase se esquecem do dia anterior, olhar rendido naquelas águas tranquilizadoras. Mesmo com a presença constante de alguns grupos de crentes o local é silencioso, como se os ruídos das pessoas se misturassem no registo de fundo e perdessem identidade, ruídos sem expressão individual. Até o barulho do motor diesel encaixava, um ronco que ao longe se transforma em zunido, que se perde no espaço.
É o rádio que os acorda, o posto que os chama, alguém que encontrou um corpo junto à saída para as Areias brancas, na picada que divide o pinhal.
(Cont.)

P.S. Desculpem-me os amigos que me costumam ler pelo espaçamento da narrativa. O tempo que dedico ao blog teve de ser encolhido por razões que me são alheias (desculpa para motivos pessoais). Vou no entanto continuar aqui, acabando o que comecei e sempre que possível fazendo mais.
Obrigado por me aturarem e um bem haja a todos!