Dez de Novembro de dois mil e catorze, dezassete horas e
dezanove minutos. Cheguei do trabalho. Entro em casa. A sala, fria e escura,
recebe-me de braços abertos, num aconchego gelado de coisa morta. Um ligeiro
cheiro a humidade paira no ar, lugar-comum para algo que se insinua, estado de
presença, existência, não se impondo, fazendo-se notar. Um grito de alerta para
o espaço imediato e para aquele logo a seguir, e isto significa ouvir-se em
toda a casa. MARIANAA! E enquanto o nome ecoa aprumo o ouvido e sintonizo-me
com os ruídos do silêncio, uma fração de segundos, uma fração que durou
segundos, que me desesperou o tempo suficiente para nem chegar a ser tempo, tão
ao de leve como a resposta, sim pai!
Já estás na cama? Estava com frio, uma pausa enquanto ajeita
os lençóis, acomoda o corpo para se debruçar num caderno manuscrito, estavas a
estudar? Vais ter algum teste? Sim, o último antes do Natal, de físico-química,
o último, o primeiro de muitos, vou lá abaixo acender o aquecedor, porque é que
não acendes antes a lareira.
Fui à casa de banho, depois fui à garagem e fumei um
cigarro, quanto tempo demorei? Não sei, uns míseros cinco minutos. Peguei em
três pequenos toros e numa caixa de acendalhas.
A lareira já está acesa, ouve-se uma guitarra e um baixo,
aplausos, obrigado! Dead Combo, Live at Teatro São Luiz, começando com sopa de
cavalo cansado, passando por quando a alma não é pequena, acabando num desabafo
ai que vida, e o ecrã à minha frente, o ícone do Word insinuando-se,
lembrando-me do atalho que criei vai para meses, numa tentativa frustrada de
criar hábitos de escrita, um teclar constante e consciente, produtivo e
independente de estados de humor, um exercício de construção com objetivo, um
projeto acabado.
A lareira permanece acesa, eu entretanto adormeci…
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