Carta aberta ao Pai
Natal
Meu caro Pai Natal
nem sei por onde começar. Tive dúvidas no título e hesitei na “carta”. Poderia
ter-lhe chamado email ou mensagem ou outra coisa qualquer mas achei que isso
não tinha importância, desde que estejas disponível para ler estas sinceras palavras,
o nome é apenas um nome e tu não te prendes com tais irrelevâncias.
Também tive dúvidas
sobre o conteúdo, essas mais graves e de difícil resolução mas, como sempre
tentei ser honesto, vou começar pelo meu comportamento. Sou um filho incompleto
e a prestações. Depositei o meu Pai num lugar onde filhos incompletos como eu
depositam os seus pais. Faço duas visitas semanais mas sinto-me culpado por não
o ver todos os dias. O trabalho, as rotinas, a doença que lhe tomou conta da
memória e não o deixa lembra-se de mim, o descanso de que necessito e mais uma
mão cheia de outras desculpas servem de justificação para uma tão fraca assiduidade
quando na realidade, o que me custa é vê-lo desaparecer lentamente. Sei que
quanto a isto não podes fazer nada, a vontade é minha e a vida a Deus pertence,
portanto o que te vou pedir é mais à tua medida.
Amanhã, dia de Natal
gostava de ver o meu Pai barbeado e limpo, com roupa simples e asseada, sentado
numa cadeira nova num quarto a cheirar a detergente onde uma cama em condições poderia
fazer sonhar quem nela se deitasse. Gostava também de o ver pouco trôpego e com
um sorriso nos lábios para podermos ir passear e ver o mar.
OK, sei que estás
muito ocupado e que deves ter passado os últimos meses em centros comerciais e
outros estabelecimentos do género de modo a suprir o teu stock de desejos e
ambições. Também sei que já não tenho idade para acreditar em ti mas o que é
que queres, também já não acredito em quase nada…
Desejo-te um
excelente dia de trabalho, sem falhas nas entregas, atrasos ou imprevistos.
Um abraço deste
gaiato crescido e cheio de imperfeições que muito te estima.
Até para o Ano
Jorge Saboga
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