Acredito em Deus, mas não acredito na religião.
A religião promete-me a eternidade, mas para ser eterno é necessária uma existência antes do nascimento. Uma eternidade sem passado é uma falsa eternidade, uma eternidade parcial, o que faria do mundo um conjunto infinito de eternidades imperfeitas. Assim sendo, e para que eu possa ser eterno, o meu nascimento não é mais que uma reencarnação. Mas para que a reencarnação seja uma realidade necessitamos de um número constante de entidades reencarnáveis. No início esse número foi criado, é lá que encontramos a primeira reencarnação, possivelmente uma reencarnação quântica, onde, ainda antes de sermos uma coisa feita de coisas, éramos apenas partículas em constante mutação. Esta é a premissa para a unidade divina. Deus está em nós porque nós não existimos sem ele e ele não existe sem nós e nós não somos mais que reproduções reencarnadas dessa unidade. Haverá um fim para esta renovação, um estágio superior onde ela se resolva numa sabedoria Suprema, uma entidade acima de todas as outras? Em teoria não. Qualquer estágio que dependesse deste processo, estaria sempre preso à unidade primordial. Se, porventura, acreditarmos que algo existia antes desse início teremos de considerar, também, a existência de uma reencarnação anterior, proveniente, possivelmente, de um outro início. Onde ficamos então? Presos à eternidade parcial que depende do nosso comportamento desde que nascemos até que assumimos a forma espiritual ou, pelo contrário, assumimo-nos eternamente reencarnados, para sempre passado, presente, e futuro, navegando numa constante mudança de forma numa permuta finita de entidades espirituais. Para cada partícula, seja ela a mais ínfima, haverá sempre espaço para uma reencarnação.
O que é então a eternidade?
Para quem acredita na vida após a morte não é mais que uma tomada de consciência pelo seu nascimento. Para quem acredita na reencarnação, é a vida em constante renovação numa existência paralela com o universo. Haja quem acredite no Nirvana, uma passagem para um nível superior, mas isso não acrescenta nada ao conceito de eternidade. É apenas um síndroma humano associado à sua necessidade de chegar mais longe que os outros. De que serviria esse Nirvana sem a existência de outros semelhantes para os quais esse estágio ainda era desconhecido. Qualquer que seja a eternidade ela não suporta a solidão na qual ela deixa de ter significado.
No começo deste texto referi a minha crença em Deus, mas devo aqui esclarecer esse crer. Para mim, rezar não é acreditar na sua existência, é apenas uma esperança, quem sabe vã, na sua existência. Na verdade, o niilismo que me ataca faz-me sofrer por me deixar colocar todas as questões, por me deixar destruir todos os dogmas pondo-os constantemente em causa, mesmo que alguns já procure tenham sido dissecados até ao suicídio por filósofos de outros séculos, por me lembrar que tudo me é permitido. Procure eu as respostas sem me satisfazer com nenhuma, e perceberei que essa é a essência e a beleza da vida. Quem sabe se a eternidade não se encontra nessa insatisfação.
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