2012-01-16

Um conto

Jonas é um homem já feito. Feito porque foi feito, feito porque assim se mantém. Poder-se-ia dizer que depois de feito só lhe bastava crescer. Jonas tornou-se “Jonas” porque João não lhe bastava, nem aos amigos que assim o baptizaram.
Jonas nasceu numa família pequena, numa casa pequena, numa terra pequena, num país pequeno, Jonas também é pequeno, mas só de tamanho, mas disso não tem culpa assim como de tudo o resto.
Jonas andou na escola mas não estudou, teve empregos mas não trabalhou, mas quando sonhou partiu. Esteve em África quando todos se vieram embora, foi para o Brasil quando o Brasil era favela e fez-se pescador quando voltou a Portugal.
Jonas teve um barco pequeno, pequeno foi o barco mas grande foi o amor que teve por ele. Jonas que é um homem já feito disse que tinha sido feito para o mar. Foi o mar que lhe levou o barco e por pouco também a vida. Maldito dia em que um barco maior não o viu e numa madrugada enevoada o entornou para a água.
Benditos os braços de Jonas que lhe despiram a roupa, lhe tiraram as botas e lhe remaram o corpo para terra.
Jonas, homem já feito, tornou-se mendigo, habitou-se a pedir, trocou o mar pela terra e vagueou sem destino à espera de outro sonho, Jonas queria ser poeta.
Mas Jonas não sabia escrever, ou já não se lembrava, sabia no entanto as palavras que descreviam a vida do homem que era. Jonas recordava da mesma maneira que os poetas inventam.
Jonas comia pouco e bebia o que podia. Jonas tinha uma tenda por detrás do pinhal.
Jonas trocava poemas por sandes, frases por cigarros, filosofias por um copo.
Hoje Jonas partiu…Não morreu! Partiu apenas. Deixou a tenda e o sonho da poesia. Diz quem sabe que o viu a caminho do Algarve, a pé, pela estrada que sai do Cercal.
Jonas, homem já feito, não para de sonhar…

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