2013-04-23

O grafismo da minha escrita


Que pena tenho eu de não poder mostrar o grafismo da minha escrita. Resumia-a a um programa informático que descodifica pensamentos em letras elaboradas, inventadas por quem achou que bastavam. Procuro no meio de tantas opções a opção certa sabendo de antemão que nunca será a correcta. Tão pouco de mim a não ser isso mesmo, a tradução, descodificação alinhavada, palavras passadas a fino pelo corrector automático que um dia se impôs no processador avisando-me de acordos com que eu não concordei, ou concordei pelo silêncio. E no entanto tudo sairá igual, destino traçado pelo modo automático com que o defini num dia de preguiças residuais. Enquanto escrevo vou-me apercebendo dos erros, as linhas vermelhas, ondulantes, que sublinham palavras fora das normas e eu penso nas normas, na facilidade com que as normas se impõem, se sobrepõem a tudo o que faço. Não será fácil fugir-lhe quando tudo está preso. Às vezes penso se estou dependente das opiniões, das visitas estranhas em países de atlas onde o português não pode ser mais que uma tradução automática. Às vezes penso que não são os autóctones. Os leitores, imagino-os portugueses de longínqua coragem, refugiados da impotência de rectângulo marginal nas margens marítimas de uma Europa milenar. E voltando aos erros, não sei se os deva corrigir, se corrijo só metade, se será a metade correcta e se depois da aceitação alguma norma terá sido seguida. Longe vai a disciplina de português que aprendi na escola quando ainda não sabia quem era. Hoje tudo é tão fútil, tão necessitado de renovação constante, Darwin linguístico em passo acelerado para depois nos dizerem que não. Deita fora essa língua que não presta, aprende das que te darão o futuro e no futuro lambe essa primeira língua como a recordação de um seio materno já morto. Que estou eu escrevendo? Fossem estas linhas, tinta numa página e o desentendimento gráfico tornar-se-ia percetível. Não são, são 0 e I´s numa simbologia binária que me permite divulgá-la.  Tenho pena que não seja o papel escrito. Reservo para mim essa escrita manufacturada, a tinta desenhada que me permite aferir de disposições psicológicas. O desabafo por aqui fica, a pequena reflexão pós digestiva que um sol primaveril aqueceu e iluminou. A edição será rápida, com a rapidez e a comodidade de um clique…ou dois…que importa quando os dedos já nem os sentem? O texto que queria escrever já está feito, manuscrito, que perda de tempo neste século XXI tão cheio de pressas. Chego ao fim com a sensação de que já estou desactualizado. Como tudo neste mundo frenético, já não valerá a pena ler isto…e apenas passaram alguns minutos…

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