2007-10-25

Quinze anos depois - Outubro

Decidi arrumar a garagem, que no meu caso não serve para arrumar nenhum carro. Entre bicicletas, bolas de basquet, máquina de lavar roupa, arca frigorífica, uma mesa de actividades e muito mais coisas, encontra-se um móvel onde vou colocando o que não me cabe na sala. Dentro dele encontrei rastos na minha vida, passo a explicar. Sempre gostei de coleccionar revistas. Quando mais novo comprei a revista semanal “Tintin” onde o Vasco Granja me ensinou a gostar de Corto Maltese, do Tenente Blueberry, de Bruno Brazil e a sua brigada Caimão entre muitos outros. Já mais velhinho, em 82, acabado de fazer a prova oral em francês do 11ºano, comecei a comprar a revista Rock & Folck, francesa, hábito que só larguei nos anos noventa. Em noventa e dois rendi-me à irreverência do estilo do Miguel Sousa Tavares que imprimiu, aliada a um excelente cuidado gráfico, à Grande Reportagem uma imagem de marca que quase aguentou a sua saída. Tenho a década de noventa em Grandes Reportagens guardadas na garagem. Porque estamos em Outubro aqui vão algumas das actualidades de 92, já lá vão quinze anos.

No Editorial, Miguel Sousa Tavares afirmava num texto intitulado “Regresso à barbárie”.

“que Europa é esta, que Nova Ordem Internacional é esta, que assiste inerte à selvajaria que todas as noites nos é servida em casa pelas imagens da televisão? Enquanto a Europa discute se há-de ou não viver com o tratado de Maastricht, para depois ter uma política externa e uma política de defesa comum que lhe permitirão (dentro de três ou quatro anos) intervir em situações como a da Bósnia,”

Na secção “As coisas que eles dizem” aparece uma citação de D. José Policarpo, à altura bispo auxiliar de Lisboa e Reitor da Universidade Católica, retirada do semanário Expresso (edição de 12 de Setembro de 92). Assim, sem “papas na língua”, como diz o povo, desculpem-me falar dele, ele que anda tão mal tratado.

“O caso de Timor Leste é muito complicado. Em Portugal, a posição dos media em relação a Timor Leste só apanha um dos lados do problema. Nós temos informações muito mais completas, que nos levam a uma tomada de posição mais silenciosa, até para ser eficaz. Todos nós sabemos que estes problemas complicados não se resolvem na praça pública mas na confidencialidade das chancelarias e canais diplomáticos.”

Deu-lhe a Grande Reportagem o Prémio “Deus lhe perdoe tanto silêncio” visto tratar-se de uma secção onde se premiavam citações.

Nas actualidades um pequeno artigo falava de cientistas russos a viver e trabalhar no Pólo Sul. Dizia esse artigo que os tais cientistas continuavam de “castigo”. Punha-se em questão a sua sobrevivência no Inverno que ai vinha. Sentindo-se abandonados pediram socorro pela rádio a outros cientistas de uma base Americana em Amundsen-Scott (Trágica a morte de Scott). Declarações feitas pelo chefe da base russa de Vostok referiam “O governo deixou-nos cair.”. Em resposta as autoridades de Moscovo justificavam-se com outras prioridades. Em todas as estações antárcticas ponderava-se o recurso à greve inviabilizando o envio dos boletins meteorológicos para S. Petersburgo e para Moscovo. Sentenciava o artigo, “A situação de abandono destes técnicos russos é uma das consequências das mudanças ocorridas na ex-União soviética. Recebem apenas 10 por cento dos salários a que têm direito e os responsáveis pelas estações polares, ou seja o Comité de Estado para a Hidrometeorologia, caiu em desgraça.”.


Na “fotossíntese” encontrávamos uma fotografia do Eng.º Guterres (Foto de Pedro Silva, publicada no Diário de Notícias de 16-9-92). O Homem estava mais novo, queimado pelo sol das férias acabadas de gozar, dizia-se, na Praia dos Tomates.
Em pleno Cavaquismo criticava-se a apatia do PS em férias no Algarve e do PC na festa da Atalaia. Em tom de desabafo constatava-se, “A oposição em Portugal já só se ouve graças ao CDS”.

Ainda e só CDS com Paulo Portas no semanário Independente (acho que o MEC também para lá andava), isto digo eu.

No próximo mês vou trazer outras recordações.

Um grande bem haja para todos os que colaboraram na Grande reportagem. A eles lhes peço que vejam este post como um tributo e não como um plágio.

1 comentário:

Titá disse...

Quinze anos depois!!! Não mudou muita coisa, pois não?
Bom recordar, lembro-me de algumas das coisas aqui referidas. Também guardo tudo.

Um beijo e aquele nosso abraço