2007-05-07

Declaração




Por detrás o sol nasce cinzento
Reflexo polido
Esfera afagada.
Por fora o brilho que ofusca
A luz que não mostra
Contorno apagado.

Tenho o contorno na mão
No papel que o lápis suja
No meu dedo na areia
Na projecção da minha sombra
Na assinatura do poema.

Cresce
Criança velha
Da vida
Cresce
No sentido decrescente
No lugar poente
Para onde tudo cresce.

Cresce e perdoa-te
Porque crescer é pecado para ser perdoado.


O sol que nasce mudou de cor
Cinzento sou eu se não a souber
Olhando para ti
Minha flor
Meu amor.

Toca-me ao de leve
Leva de mim um bocado
Deixa de ti o que puderes
Para eu poder tocar-te.

Hoje vi a cabeça de um passarinho
Morto
Na primavera da minha rua
Na distância da árvore.

Hoje foi ele
Não fui eu
E eu estou feliz por mim.

Vou poder chegar a casa
E dizer que te amo.

5 comentários:

Elsa Sequeira disse...

Lindo, tovcante, deslubrante!!!


Beijinhos!
:)

Talk Talk disse...

Não querendo cair nos lugares comuns que por vezes se cai aqui na blogosfera tenho a dizer que adorei este poema. É realmente muito bonito!

Um abraço

pb disse...

eu cá pra mim axo que erraste na profissão, deverias ter sido poeta, um abraço primo

Titá disse...

Um abraço. Aquele abraço...

Isabel disse...

Pois é Paulo estou a chorar.

É o mais belo poema de amor que li.

Nem te sei explicar como me tocou e como o entendo.

Como depois de ter sido o pássaro morto... de ter sentido a felicidade de o ter sido e ao fim do dia estar vivo.

Depois de ter sido o pássaro morto e estar feliz poder chegar a casa e dizer: eu amo-te.

Belo... tão belo... tão forte e intensamente duro e doce.

Tão perto daquilo que eu sou.

Obrigada meu amigo.