O nome, ou o grito, dentro do quarto escuro, talvez nem tanto. Um sussurro amplificado, distorcido pelo álcool, codificado por químicos.
“Pedro! “
O eco do nome ou do grito sussurrado, olhos que procuram ver o que aos ouvidos pertence.
“Pedro! Vá lá, olha para mim.”
A voz que parece familiar, sem idade. Uma voz de mil imagens, desprendida de retratos presos no tempo. A voz circula no escuro do quarto, balança suavemente e perde-se na memória ainda agora presente.
“Pedro?”
Que som é este à volta da tua voz? A pergunta fica retida numa camada espessa que separa o que queremos do que fazemos. A tua voz já tem nome…Espera um pouco…Deixa-me recordar-lhe o ritmo, o tom…
“Paulo?”
PP olhou para Pedro. “Queres ouvir a primeira música da banda?”.
A resposta perdeu-se num pequeno fio de baba, dos olhos abertos pouco se via.
Endireitou-se na cadeira e acomodou a viola baixo por debaixo do braço direito. A voz do Paulo encheu a escuridão acompanhada pela percussão repetitiva de uma nota grave…
…Em nome do Pai, do Não! E da miséria.
Em nome do século que acabou.
Em nome do nada que nos deixaram.
Em nome de quem não tem futuro…
“Paulo?”, “Estás ai Paulo?”, “Em meu nome também…Não te esqueças?”. A nota grave larga o ritmo e procura uma melodia distorcida pela violência do contacto entre as cordas e os dedos. “És tu PP?...Ainda aí estás?”. A nota grave baixa o volume e retoma a percussão repetitiva…
…Em nome da sorte que não é nossa,
Em nome da estrada que não nos leva,
Em nome do destino que não queremos,
Em nome do diabo que nos carrega!
“PP? Estás a ouvir-me PP?”, “Falas do diabo porquê?”, “Paulo, eu estou a vê-lo…Ao diabo…tem tantas Cores…”. “Tem calma Pedro!”. A nota grave e monótona…E a voz…
…Em nome da mãe que perdeu o filho,
Em nome do filho que perdeu a mãe,
Em nome do pai que perdeu os dois,
Em nome de mim que sou um refém.
“Eu perdi a mãe dos meus dois filhos. Eu…de manhã…falei com os meus filhos…”, “PP! Tu tens filhos?”.
…Em nome de coisas, nomes e factos.
Em nome da merda que nos afoga a garganta.
Em nome do silêncio e do medo,
Em nome de quem nos espanca.
A voz eleva-se um pouco mais, ganha também um pouco de rouquidão, assento amargo de inflamação mal curada.
…Em nome do nome que nos querem tirar,
Em nome do nome da luta que ficou por travar,
Em nome do nome da raiva e da vergonha,
Em nome do nome de tudo…
Em nosso nome, Holandês!
O dia amanhecia no quarto de Pedro…Um ano mais velho. O Paulo estava convencido mas Pedro não estava em condições para se aperceber disso.
Um encontro a quatro está para breve…
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