O abraço é grande e
o tempo que me sobra é incerto. De Novembro a Novembro passou um ano e eu não
quero deixar passar outro sem te escrever estas palavras. São o que são e valem
o que valem mas acima de tudo são sinceras. Pesam-me incertezas e o medo de ter
falhado. Imagino um homem venerável e idoso. De olhar crítico e ao mesmo
tempo indiferente. Traz numa mão o somatório do que fui e na outra um rol de dívidas
por cobrar. Hoje alguém pagou as suas. Duas semanas de hospital não resolveram
um coração cansado. Tanto trabalho para tão pouco descanso.
Tenho dormido
melhor, acordo menos vezes durante a noite e já não fumo para adormecer. Não
sei porque te conto estas coisas, mas o tempo voa e um dia pode ser tarde demais.
Assim ficas a saber que a cama se tornou minha amiga e já não me tortura com
aconchegos.
Ontem saí à
meia-noite e perguntei-me porque estava a rega automática ligada. Pareceu-me
estranho que na cidade deserta apenas nos repuxos aquíferos houvesse vida. A
relva está viçosa e agradece este mimo autárquico. Ainda se pode pisar a relva, mas depois de ver gastar tanta água o gosto já não é o mesmo.
Lembro-me de um familiar da ex-mulher do meu pai, aqui há uns anos, criticar
esta “malta nova” por estar sempre a tomar banho. Segundo ele um banho por
semana bastava. Na altura achei ridícula a observação, hoje acho ridículo o que
eu achei.
Os dias estão cada
vez mais pequenos mas eu tenho cá para mim que não é o Inverno que os anda a
encolher. De ano para ano os dias vão ficando menores e o tempo escasseia para
tudo. Sempre pensei que a lista de coisas para fazer fosse diminuindo. Pura
mentira. A lista aumenta de dia para dia e coisas tão improváveis como a
leitura de um livro deixam-me angustiado. Tanto que me falta ler, eu que
continuo a comprar mais livros do que aqueles que consigo consumir. Hoje
demorei uma hora a decidir-me por um. Cheguei à conclusão que perdi uma hora de
leitura. Depois cheguei a outra conclusão, perco demasiado tempo a decidir-me.
Deixo-te esta
confissão com a certeza de que te rirás de mim.
Faço votos para que
esse sorriso te traga alguma alegria.
Abraço grande meu
irmão desconhecido.
26 de Novembro de
2017
P. Guerreiro
Sem comentários:
Enviar um comentário