2006-08-20

Primeiro Amor

Deixo-te, mas levo um pedaço de ti. Guardo-o cá dentro onde o posso recordar sem ninguém ver. Os anos tiraram a nitidez da imagem, poliram a cara que tu foste e fizeram-te eterna. Para dizer a verdade eu não te deixei, tão pouco tu me conheceste, foste uma paixão, daquelas que não se quer estragar com a banalidade de quem assume uma relação. Ainda hoje sinto o teu cheiro...Tinha dez anos...E tu? Um pouco mais velha creio eu. Nunca procurei ficar na mesma carteira, partilhar o mesmo espaço no recreio. Ficava de longe, embalado pelos teus gestos de menina a crescer. Eras alta, muito mais alta que eu e tinhas um casaco de malha, branco. O que eu procurei por esse casaco...Soube que moravas na Reboleira, no Edifício Oeiras, aquele enorme prédio com mais de dez andares, referência da zona sul. Apesar dos avisos da minha mãe passei horas à espera de te ver sair, “Paulo, não vás lá para baixo, estás a ouvir-me?”, claro que te ouvi mãe, mas que podia eu fazer? Segui-te sem tu saberes com aquela pasta castanha pendurada nas minhas costas. Levava lá dentro tudo o que era suposto eu aprender, só não trazia a explicação para o meu desassossego. Assim a carreguei durante dois anos, juntamente com a minha obsessão. Foi no final do segundo ano que o encanto se perdeu...Custou-me a acreditar...O meu amigo Rui trazia-te pela mão. Falaste-me pela primeira vez e eu sofri. Durante alguns dias mal comi e a escola tornou-se um pesadelo, eu que acordava sonhando encontrar-te no meio daqueles pavilhões onde sujavas de pó branco os sapatos com presilha. O Rui nunca soube o que eu sentia. Continuei a ir a casa dele para estudar e via-o atender o telefone e adivinhava quem estava do outro lado, “Vou lá abaixo, queres vir?”, “Hoje não!...A minha mãe precisa de ajuda,”. Via-o seguir o mesmo caminho que eu secretamente havia percorrido dezenas de vezes. Nessas alturas nunca fui ajudar a minha mãe.
Passaram tantos anos e a minha memória guardou-te um lugar…Ao sol…
Também tu me ensinaste a amar …Obrigado!

2 comentários:

lo disse...

Olá meu amigo
lindo este texto
não existe palavras...
:)))))))))))
beijooooooo

Anónimo disse...

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