2012-08-24

Viola baixo e vozes: Paulo “PP”

O Paulo tem andado desaparecido. Volta de vez em quando à casa da sua mãe na Amadora. Paulo foi o homem dos excessos, de todos os excessos. Tudo o que fazia era levado às últimas consequências. Bebeu álcool como se mais nada houvesse para beber, tomou LSD até ficar quase louco, apaixonou-se por cocaína e injetou-a sem limites, deixou-se levar pela heroína, dormia pouco, comia pouco, vivia nos bares por detrás de uns pequenos óculos escuros que raramente tirava.


Conhecem-lhe várias desintoxicações. Para ele esses períodos serviam de manutenção. Logo que voltava à rua o ritmo recomeçava. As relações afetivas eram consumidas como doses de droga, não descansava enquanto não as acabava. De estatura média, tinha cara de menino mal comportado o que fazia com que as mulheres gostassem do apaparicar. Mesmo queimado por dentro manteve esse ar de eterno rebelde, com cabelo farto e desalinhado que teimava em manter-se preto furtando-se às cãs.

Nunca conheceu o pai, desaparecido no final dos anos cinquenta numa prisão do antigo regime. Desde essa altura o corpo da mãe nunca mais voltou a conhecer outro homem. Sempre viveu em casa da mãe. Quando isso não acontecia procurava refúgio em quartos avulso. Vivia de expedientes e de uma habilidade excecional para o desenho. Foi músico por rebeldia e a viola baixo nas suas mãos mais parecia uma arma de guerra. As bandas onde tocou são inumeráveis, tudo bandas sem futuro onde o seu futuro também não perdurava. Desacatos nos concertos, atrasos inexplicáveis, dissertações violentas no meio das músicas. Tudo isso que lhe dava prazer era razão para a sua expulsão.

Como bom sobrevivente Paulo mantém o estilo de vida, muito por conta dos contactos no mundo dos narcóticos. Também alguns amigos no mundo do espetáculo o acarinham. Sabem que da mão dele pode sempre sair um doce, qualquer coisa que dê mais sentido à vida.

Pedro foi a casa da mãe do Paulo e ficou a saber da sua ausência, “Já lá vão dois meses que ele não me diz nada, tu sabes como ele é!”, “Pois sei Dona Ana.”, “ Já nem me dou ao trabalho de me preocupar. Aquele malandro nasceu com as mãos de um anjo por baixo daquele corpo.”, “Pois nasceu Dona Ana.”, “Mas eu já vou ficando velha para isto. Quando eu me for o que é que aquele pirata vai fazer?”, “Não sei Dona Ana.”, “Olha lá Pedro, tu não estás nos teus dias, pois não?”, “Não dona Ana.”, “Entra e senta-te um bocadinho que eu arranjo-te qualquer coisa para comer.”, “Obrigado Dona Ana, fica para outra altura…faça-me um favor, se tiver notícias diga-lhe que preciso muito falar com ele.”, “Passa-se alguma coisa?”, “Não Dona Ana, fique descansada, são uns assuntos de música.”, “Vocês já não têm idade para isso”, “É verdade Dona Ana.”.

Despediu-se ainda a pensar na última frase de Dona Ana, ”, “Vocês já não têm idade para isso”, Será? De qualquer maneira quem não vai ficar muito contente é o Jó. Que se lixe, depois logo lhe telefono. Entrou num café e bebeu dois Whiskeys de penalti. Já há muito tempo que não o fazia antes do almoço.

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