2006-07-21

À Borda

Em Julho o dia diminui. Em Lisboa trinta e sete minutos e no Porto quarenta e um minutos, no resto do país não se deram ao trabalho de fazer as contas, talvez não fosse necessário, nós que vivemos de referências essas deveram bastar. Segundo o “Borda D’água” é altura de ceifar e debulhar, boa para semear feijão verde e alfaces antes dos primeiros frios de Inverno. No final do mês será a vez da cenoura, do rábano, da salsa e de outras plantas com necessidades iguais. A leitura do que se deve ou pode fazer não pára e acaba fazendo um apelo à prevenção dos fogos através da limpeza das matas, bosques e florestas.


A manhã estava boa, não se via o sol mas a temperatura era agradável, muito por causa de uma ligeira brisa que soprava de nordeste. Percorri a via rápida até à saída da Ribeira de Moinhos, dez quilómetros mal medidos, esse desvio que nos leva à zona industrial vindos de Santo André. A estrada é obrigada, numa argola fechada, a atravessar a via de origem num ângulo recto para o lado esquerdo. Em seguida um entroncamento de asfalto novo. Do lado direito a Petroquímica, a fábrica de resinas do Belmiro logo a seguir, na curva que alinha a estrada com o eixo Norte /Sul. Mais à frente o “negro de fumo” da Carbogal. Ligeira curvatura e logo uma rotunda, depois um cruzamento que dá para a Metalsines.
Nesse cruzamento vislumbra-se a silhueta arquitectónica da refinaria. Segue-se em frente, talvez para a melhor imagem que se obtém do complexo, cruzando por cima a outra via rápida, aquela onde desagua o IP8,vinda de Santiago, direcção Este /Oeste. Desse viaduto percebe-se o planeamento, à direita depósitos, ao meio os serviços, por detrás as unidades de processamento e a Central lideradas pela chaminé principal com os seus duzentos e quase cinquenta metros (não se lhe adivinha o tamanho até estarmos perto dela). Um pouco ao lado, deixando antever uma grande avenida, existem dois riscos na paisagem, dois enormes queimadores onde se consome o excedente gasoso da produção petrolífera, duas enormes válvulas de escape com queima e mais de cem metros de altura. São elas o que primeiro se vê quando se faz a viagem de noite, indicadoras do estado de saúde das fábricas que compõem a refinaria. Um olhar sobre o fogo que cospem e saberemos se existem problemas. Uma chama baixa, óptimo. Uma chama amarela e crescida, muito calor. Chama grande com muito fumo, queima-se a carga por questões de segurança, talvez seja preciso parar. Não se adivinha tudo mas dá para ter uma ideia.


Chegaram a estar mais de quarenta graus trazidos por um vento doentio. O céu, cor de sépia, trazia aguaceiros com terra. As grandes árvores junto à estrada abanavam com violência, deixando cair os seus ramos mais frágeis. Pequenos remoinhos surgiam do solo para logo desaparecerem. De repente o vento parou. O céu, no fim da tarde, tentou-se azul. Já sem tempo para o conseguir.


Vamos a caminho da Lua Nova. Segundo as previsões do almanaque esse encontro realizar-se-á dia vinte cinco.

Até quando os encontros certos? Esperam-se almanaques de mudança...

3 comentários:

pb disse...

O Borda d'agua...fizeste-me recuar uns anos no tempo, quando vim morar para esta casa e compraca o almanaque para saber a altura das semeaduras, ainda cheguei a ter alfaces, cenouras, alhos, etc. depois o entusiasmo foi esmorecendo e hoje tenho um "bonito" quintal de relva, salpicado aqui e acolá por uma erva mais daninha. Um abraço e bom fim semana

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
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