
Á beira da estrada três montes lenha. Uma placa tosca com letras pintadas e uma seta leva-nos a percorrer um pequeno caminho de terra que nos retira do asfalto. Uma vedação, um portão aberto e logo a seguir um toldo de plástico onde repousa um velho tractor. Ao seu lado um homem bem entrado nos cinquenta, marcas do trabalho do campo na cara e nas mãos, previsivelmente também no corpo se o mostrasse. Sentado numa cadeira, que me lembra as que existiam nos cafés quando eu era pequeno, entretém-se com uma navalha e um pau. Separa-nos uma mesa de madeira forrada com um plástico transparente, reaproveitado de outros embrulhos. Um lápis, um bloco improvisado e pedaços de madeira, simulam destroços de uma tempestade, emprestando-lhe um ar desarrumado que não destoa.
Todos os anos compro lenha, uma tonelada, meia de sobro e meia de azinho, para o recuperador lá de casa e para os meus sogros. Não tenho especial fascínio pelo fogo mas agrada-me bastante observar o lume manso na lareira durante o Inverno. Os olhos abandonam o corpo e perdem-se na brasa e aquecem-se, aquecendo com eles todo o corpo. Não consigo explicar...É muito bom…
O azinho é melhor, tem uma combustão lenta e produz mais calor que o sobro, também é mais caro. São coisas que se fazem com antecedência, antes das chuvas e do tempo húmido. A madeira molhada pesa mais e custa a pegar fogo.
“Bom dia!”, o homem desvia o olhar das mãos e debruça-o em mim, retribui o cumprimento. O negócio é rápido mas a conversa lenta. Enquanto avalio o tamanho dos cavacos pergunto pelo preço, “Cento e vinte o azinho…O sobro fica a oitenta.”. “Este ano só quero azinho…”, “Você é que sabe…”.
Aproveitei a manhã de folga. A minha sogra deixou o carrinho de mão cá fora. Por debaixo da construção em alvenaria que serve de garagem e aproveitando o desnível do terreno, existe um espaço reservado para a lenha. Fica sempre em casa deles, quando precisamos vamos lá buscar, é perto e eu gosto de lá ir. Também gosto de arrumar os cavacos, escolhê-los pelo tamanho e pelo corte, garantir que não descaem, estacá-los de vez em vez. Enquanto espero vou arranjando espaço. As vespas fazem-me companhia, atraídas por três figos podres num balde, a um canto…Depois logo os deito fora.
Ouço vozes, a minha mulher dá indicações sobre o local de descarga. Quando chego lá acima já os primeiros pedaços de madeira rebolam pelo chão. Falo com um dos homens, o outro pouco percebe do luso verbo, do Leste? Não sei, não perguntei.
Acabaram, “Um bom dia de trabalho!”, “Obrigado! Olhe que você também não está mal servido.”.
Fiz a coisa nas calmas, a Deo ajudou-me e este ano acabei mais cedo. Olhei orgulhoso para a arrumação…Ainda ficou muito espaço livre…O meu sogro vai ficar contente.
Escolhi dois pedaços de lenha para o meu recuperador de calor…Para fazer vista…
É essa a imagem que deixo…
Um abraço a todos e boa semana!