2006-07-30

Músicas do Mundo




Foram três dias intensos, de grande desgaste. A vinte sete entrei pela porta do Castelo de Sines para rever velhos amigos, os Gaiteiros de Lisboa com as suas vozes de cancioneiro. Entre cervejas, vinhos e cheiros, trazidos pela nova geração que frequenta os festivais, aproximei-me do palco para melhor ouvir Joachim Kuhn, pianista alemão, que juntamente com Rabih Abou-Khalil, Libanês, excelente executante do alaúde, e um baterista americano, me proporcionaram uma hora e meia das arábias. Deles recordo o magnifico dialogo entre o piano intimista e o som limpo do alaúde. A primeira noite acabou com Toumani Diabaté mestre da Kora (Harpa de vinte e uma cordas, com origem na Africa Ocidental) e os ritmos quentes do Mali. Este senhor, que tal como eu nasceu em 1965, a meio do concerto ainda teve tempo para nos explicar o instrumento. De uma forma pausada e num inglês meio estranho disse-nos do ritmo e exemplificou, juntou depois a melodia e por fim a improvisação, altura em que o instrumento parece explodir num intricado sistema sonoro. Com ele a Symmetric Orchestra composta por elementos de vários países que na sua origem fizeram parte do império do Gana. Cheguei a casa por volta das quatro, desistindo do último espectáculo que se realizou na praia e dedicado a todos aqueles para quem a noite não tem fim.
No dia seguinte fui jantar com o jota, o meu parceiro destas andanças. Tal como no dia anterior dirigimo-nos à Flor de Sines, mas estava cheio. Como alternativa escolhemos o Zé Beicinho onde tentamos antecipar emoções e revemos as anteriores. O alinhamento previa que a festa no Castelo terminasse com Thomas Mappuno & The Blacks Unlimited do Zimbabué, mas motivos alheios à organização não permitiram que isso acontecesse. Em consequência deste facto a noite começou com uma desconhecida iraquiana, mulher imponente da cidade de Carbala e que nos trouxe uma voz potente que habitualmente seria pertença masculina no agrupamento, como fez questão de salientar o apresentador. Depois os esperados mas inesperados The Bad Plus. Com uma formação que lhe faria adivinhar outro estilo (Piano, contrabaixo e bateria) navegaram entre o jazz e o rock deixando-nos muitas vezes sem perceber o estilo, mas em grande estilo. Magnifica a versão de Chariots of Fire, descompassada, desconcertante, resultou em pleno no palco e cativou toda a gente. Para o fim o melhor de tudo o que ouvi, talvez porque adore percussão ou porque a pessoa em questão se chama Trilok Gurtu (A Downbeat magazine proclamou-o por três vezes "best percussionist" e afirmou "musically, the world is his stage". O Jazz magazine, tomou identica posição escrevendo, "this music has a transcendental quality and removes any obstacles that lie between western and eastern improvised music.”). Este extraordinário percussionista que já tocou com nomes insuspeitos como David Gilmour ou Jonh McLaughlin também já o fez com os Portugueses Mário Laginha e Maria João no álbum “Cores” em 1998, por sinal um dos melhores álbuns da dupla. Olhando os seus parceiros, The Misra Brothers, percebia-se que a musica tradicional indiana iria ser o prato forte, mas o que não esperava foi a empatia entre a sua percussão, a sua voz e o público. Ele sozinho é o espectáculo, das suas mãos saem sons inimagináveis sem pátria. O que um balde de água e um a tampa podem fazer? Perguntem-lhe! Falou com o público, provocou diálogos musicais entre batidas e palmas, salientou a honra que deveríamos sentir por ouvir os seus dois cantores, deu lugar à “sitar” (espécie de guitarra indiana), à flauta, ao “Sarangi” (algo parecido com um violoncelo, mas sem as suas formas de mulher e bastante mais pequeno de modo a se poder tocar sentado no chão), ao “Santoor” que um velho senhor arranhava enquanto soltava a voz num acompanhamento uno.
Voltei a falhar o concerto na praia, mas desta vez não por falta de vontade…Ia a um casamento. Ainda pensei em lá ir sábado à noite, mas já estava um bocado mal tratado??!! Nada de grave se parasse por ali e foi o que fiz.
Escrevo isto no domingo, a música lavou-me dos contratempos, a tempo de me sentir muito feliz.


P.S. Experimentem ir ao site das músicas do mundo, vale a pena, essencialmente pela informação musical. Um abraço a todos.

8 comentários:

lo disse...

Olá
vi sentistes saudades minhas,
eu tambem tive tuas...
bom mas já tou de volta e vim te desejar um bom domingo tambem para ti.
:)))))))))
beijooooooooooo
cheio de sensualidade

naturalissima disse...

Boa sugestão!
Para lá darei uma espreitadela.

Mais uma vez, um bom Domingo
Fica bem
Daniela

Miguel Baganha disse...

Ouvi dizer que foi um espectáculo em cheio, Guerreiro. Li um pouco no JN de hoje ( domingo ), onde destacam "Trilok Gurtu" e essa portentosa voz iraquiana. "Farida" de seu nome( se não estou em erro ) era muito admirada pela nossa Amália.

Pena que o espectáculo foi longe daqui...
Vou passar no site das músicas do mundo, assim fico mais informado.

Obrigado pla sugestão, Guerreiro!

Um abraço e boa semana ;-)

Titá disse...

mas q forró espectacular...que bom que te divertiste meu irmão.
Eu vou passar pelo site para apanhar um gostinho...

pb disse...

haaaaaaaa, por isso as noites pouco dormidas !! mais ainda bem que foi po um bom motivo. Vou aceitar a sugestão e ir ao site das musicas do mundo. Um abraço

Miguel Baganha disse...

"Jai guru deva om
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world"

- Sempre que ouço esta música, a sensação é a mesma desde criança...é uma sensação agradávelmente arrepiante...desde os meus cinco, seis anos que ouço Beatles. )

( agora mesmo, estou com "pele de galinha"...acredita! )

Pelo o horário pouco usual do teu comment, presumo que já estejas de férias, amigo Guerreiro. Se assim for, desejo-te umas belíssimas férias!

Gostei de saber que aprecias os quatro fantásticos...

( Deixo-te mais uma:" The fool on the hill " )

Um abraço ;-)

Miguel

P. Guerreiro disse...

"I look at the world and I notice it's turning
While my guitar gently weeps
With every mistake we must surely be learning
Still my guitar gently weeps"

Trabalho por turnos While my guitar gently weeps.
Valeu pela intenção Miguel...Era muito boa...estar de férias...
Obrigado pelas visitas

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.